Vivemos um momento em que muitas mortes ainda estão acontecendo por infecção do coronavírus. Infelizmente, as taxas de infecção permanecem altas, as UTIs lotadas e, nós, seguimos sem muita perspectiva do que fazer diante dessa nova doença que nos ataca sem dó nem piedade.
Por outro lado, como em todo momento de calamidade ou dúvidas da população, surgem associações infundadas entre alimentos e nutrientes específicos para prevenção ou cura de doenças. Logo, não poderia ser diferente com a Covid-19; também surgiram muitas recomendações de suplementação e de consumo de alimentos. Mas será que essas recomendações têm cunho científico válido?
Vamos falar, primeiramente, da recomendação que circulou na internet, falando sobre a ingestão de altas doses de vitamina D, como forma de prevenção da infecção por Covid-19. Não é verdadeira. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), juntamente com a Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO) elaboraram uma nota de esclarecimento manifestando seu repúdio à essa recomendação. A nota refere que “até o presente momento, não há indicação aprovada para prescrição de suplementação de vitamina D visando efeitos além da saúde óssea.” Ainda, citam que “altas doses de colecalciferol são sabidamente deletérias ao esqueleto, promovendo aumento da reabsorção óssea e do risco de quedas e fraturas. Além disso, essas doses excessivas podem desencadear hipercalcemia e hipercalciúria, com consequentes riscos de insuficiência renal, crises convulsivas e morte.” Portanto, nada de sair por aí suplementando vitamina D pensando que vai prevenir a infecção, ok. Os cuidados que precisamos ter são o uso de máscara, distanciamento social e higiene de mãos, como prescrevem os órgãos de saúde em todo o mundo.
Analisando outros pontos, alguns estudos indicaram que o consumo de fontes proteicas e gorduras saudáveis impactaram positivamente na recuperação dos pacientes, enquanto a ingestão de bebida alcoólica teve um efeito negativo nos desfechos clínicos. Os estudos sugerem que o consumo de ovos, peixes e frutos do mar, frutas, carnes, leite, vísceras e produtos vegetais podem ter contribuído para a recuperação do COVID-19. Ainda, os pesquisadores identificaram micronutrientes (selênio e zinco) com efeito positivo significativo sobre as taxas de recuperação do Covid-19. É para sair por aí suplementando Selênio e Zinco? Claro que não, basta ter uma alimentação saudável.
Outro ponto que devemos falar é dos altos índices de sobrepeso e obesidade presente na nossa população. Como vemos diariamente, a obesidade é um fator de risco para a Covid-19, assim como para outras diversas doenças cardiovasculares e metabólicas. Os estudos demonstram que pacientes hospitalizados com Covid-19 que apresentaram maiores IMCs, particularmente os obesos grau III, apresentam maior risco de morte intra-hospitalar e de ventilação mecânica, eventos tromboembólicos e realização de hemodiálise, especialmente mais jovens (<50 anos). Desta forma, mais uma vez salienta-se a importância dos hábitos saudáveis e de manter-se dentro de um patamar de peso saudável.
De tudo que falamos acima, concluímos que uma boa alimentação, rica em vegetais (folhas e legumes), frutas, leguminosas (feijões), carboidratos integrais (cereais e tubérculos), proteínas magras (carnes magras, ovos, leites e derivados) e gorduras boas (azeite de oliva, abacate, castanhas, etc) previnem o surgimento da obesidade, devolvem a vitalidade, fornecem nutrientes para o organismo, atuando de forma a aumentar a imunidade do organismo como um todo.
Em tempos de pandemia, não se recomenda dietas extremas, com drásticas reduções de calorias ou retirada de macronutrientes, como carboidratos, porque se sabe o impacto negativo sobre a imunidade. Na maioria dos casos, não precisamos de suplementação para termos acesso aos nutrientes e fitoquímicos que precisamos e que nos fornecem saúde, precisamos apenas comer bem, comer colorido e manter esse estilo de vida saudável ao longo do tempo.
Autora do post:
Juliana Teixeira – Nutricionista (CRN2 14263).